OPINIÃO
Devemos pronunciar números em vez de capítulos quando nos referirmos aos Salmos? Todos sabemos que a nossa Bíblia é dividida em livros, e estes livros são divididos em capítulos, e os capítulos são divididos em versículos. Isso todo cristão sabe, não é verdade? Porém, existe algo que tem me incomodado ultimamente: é sobre o livro de Salmos. Sei que este assunto não vai influenciar em nada sobre a sua fé, e nem tampouco afetar a sua comunhão com Deus. Isso é só questão de lógica. E por não concordar com posições que nem deveriam ir à debate, exponho aqui a minha postura.
Muitas pessoas têm achado que somos ignorantes e buscam nos corrigir, sempre que temos uma oportunidade na igreja de falar no púlpito, e abrimos nossas Bíblias em Salmos e falamos que vamos ler em Salmo capítulo tal. Logo alguém vem com um argumento direcionado a nós explicando que, por se tratar de poesias e cânticos e serem dependentes entre si, os Salmos não são capítulos, mas apenas números e o certo seria dizer: Salmo x, e não Salmo capítulo x. Sinceramente, eu discordo de tal pessoa.
Analisando a estrutura das Escrituras, percebo olhando para o próprio texto bíblico, que a Bíblia antigamente, não era dividida em capítulos e nem em versículos, mas apenas em livros. Um exemplo, temos em Lucas 4.17,18: “E foi-lhe dado o livro do profeta Isaías; e, quando abriu o livro, achou o lugar em que estava escrito: O Espírito do Senhor é sobre mim...” E em Atos 8.32, o texto diz: “E o lugar da Escritura que lia era este: Foi levado como a ovelha para o matadouro...”, baseados nestas passagens, percebemos que o escritor não menciona nem o capítulo, e nem os versículos dos referidos textos. Isso se explica por um simples motivo: a Bíblia não possuía estas divisões. Já imaginou a dificuldade que se tinha naquela época de achar o texto onde se estava lendo? Difícil, não era?
Devido esta dificuldade de localizar o texto sagrado, fez-se necessário dividir os livros em partes menores. Então no ano de 1250, o cardeal Hugo de Sancto Caro dividiu a Bíblia em capítulos; e no ano de 1550, Robert Stevens dividiu-a em versículos, esta divisão foi aplicada na edição grega do Novo Testamento, publicada em 1551 e depois na versão em francês de 1553. Isso facilitou a leitura de um texto bíblico, levando-nos a localizar qualquer passagem das Escrituras. Hoje ler a Bíblia, é algo muito prático, pois graças a essa divisão é fácil indicar o texto que temos em mente ou que estamos usando. De acordo com esta divisão, a Bíblia possui 1189 capítulos e 31102 versículos.
Agora levando em consideração o livro de Salmos com sua tendência poética, percebemos, que o mesmo não contém só poesias, misturam-se poesias e prosas. Deparamo-nos com hinos, cânticos, provérbios e reflexões, que muitas vezes fogem da métrica poética. Embora sabemos, que estes detalhes não excluem os Salmos, (assim como Jó, Provérbios, Eclesiastes e Cantares) de sua classificação de livro poético, devido serem estes escritos em forma de cânticos ou literatura poética.
Muitas tem sido as explicações que alicerçam a posição dos que defendem que não devemos nos referir aos Salmos em capítulos, e sim em números. Um dos argumentos, é o próprio título em português do livro “Salmos, originário da Septuaginta Grega, “Psalmoi”: uma referência a cânticos entoados com acompanhamento musical. Sabemos que os diversos escritos poéticos que compõem o nosso livro de Salmos eram originalmente cantados, quase sempre ao som de acompanhamento de harpas. Há argumentos, que por ser um livro poético, os Salmos não possuem capítulos; e enfatizam, poesias não se dividem em capítulos e sendo assim, em vez de dizer " Salmo capítulo 23" é apropriado, dizer "Salmo 23. São várias justificativas que nos induzem a levar em consideração esta postura, embora sabemos que estes argumentos caem por terra, quando se leva em consideração a própria organização estrutural da Bíblia.
Embora sabemos, que os Salmos não narram uma história com começo, meio e fim. E cada salmo seja independente entre si, não há erro nenhum em pronunciar os capítulos quando lermos o livro de Salmos. O que diriam os teólogos? O que diriam os estudantes da Bíblia? E os sabichões de plantão, concordariam comigo ou não? Imagino que não! Seja qual for a resposta de cada um, garanto que isso não muda em nada o poder da Palavra. Isso é um assunto tão simples, que nem precisamos de base teológica para entendê-lo.
Pois bem, como já destacamos anteriormente, a Bíblia é dividida em capítulos e em versículos, e esta divisão foi aceita e adotada pela comunidade cristã ao longo da história, sendo usada tanto por católicos como pelos protestantes. Sendo assim, esta estrutura estabelecida deve ser respeitada, querendo ou não. E se a Bíblia possui 1189 capítulos, e se os Salmos não são capítulos, então subtraem-se os 150 capítulos das Escrituras, logo a Bíblia perde estes capítulos, e já não são mais 1189 capítulos, pois sobram somente 1039 capítulos. Concorda comigo agora? Segundo este ponto de vista, a Bíblia possui apenas 1039 capítulos, certo?
As vezes queremos impor regras quanto à sua estrutura. Mas isso não vem ao caso, a Bíblia possui as suas particularidades, a sua estrutura e características peculiares que a diferencia de outras obras literárias. Além do mais, possui a sua própria identidade com exclusividade. Se fôssemos estabelecer regras pelo uma lógica de raciocínio, os versículos não seriam versículos, mas, seriam parágrafos. E quando lêssemos o Salmo 23.4 diríamos: Salmo capítulo 23, parágrafo 4, para ser coerente, do contrário perder-se-ia a validade por contrariar a regra básica de lógica.
Portanto, como em qualquer livro da Bíblia, falando Salmo capítulo tal ou Salmo tal, afirmamos, que em ambos os casos, o leitor está corretamente correto. Fique na paz de Deus e continue em Sua presença, “porque o Senhor é bom, e eterna a sua misericórdia; e a sua verdade estende-se de geração em geração. ” (Salmo, capítulo 100, versículo 5 ou Salmo 100.5).